Opinião
- 03 de agosto de 2016
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Príncipe Caspian e o Reino de Deus
Paralelamente ao lançamento dos meus últimos dois livros, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa e a Bíblia, que é uma versão melhorada e ampliada de Pedagogia Cristã na obra de C.S. Lewis; e Monteiro Lobato em Dom Quixote das Crianças, que é basicamente sobre a imaginação e seu uso por Lobato nessa obra, e outros temas, principalmente éticos, estou me dedicando à continuação de Magia das Crônicas de Nárnia, falando agora de Príncipe Caspian. (O lançamento será realizado em São Paulo, previsivelmente no dia 13 de agosto de 2016 e será divulgado nesse site).
Como no caso do primeiro Magia, sobre O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, trata-se de um manual de estudos da obra em pequenos grupos, sejam familiares, de igreja ou de empresa. A seguir, vou lançar algumas ideias básicas do manual.
Primeiro, a obra trata de heroísmo, amizade e fidelidade a um grupo, patriotismo, política e ética, mas o tema guarda-chuva de todos os outros são as histórias ou narrativas (stories) e seu sentido mais profundo. Esse era um dos temas favoritos, tanto de Lewis, quanto de J.R.R. Tolkien e também era um dos que mais eles discutiam entre si, inspirados por G.K. Chesterton, principalmente no seu capítulo, “A ética da Elfolândia”, de Ortodoxia, a respeito dos contos de fada.
E esse tema aparece logo de início. Tudo começa, em Príncipe Caspian, com diálogos entre Caspian e seu guia, um mago, meio anão, meio homem, que lhe conta as histórias da Antiga Nárnia, como fazia a sua ama, despedida por esse crime. Seus personagens, seres sobreviventes à tirania do tio de Caspian, Rei Miraz, encontram-se banidos na floresta negra. O Rei não admite essas histórias de animais falantes e de Aslam, que são todas descartadas como “contos da carochinha”, sem fundamento na realidade. Ao mesmo tempo, há muitas superstições em torno da floresta negra, da qual ninguém se atreve a se aproximar, por causa da crença de que haveriam poderes malignos pairando por lá.
Mas qual a função e verdadeira relação dos mitos, contos de fada e clássicos da literatura brasileira, como a obra de Monteiro Lobado, e da literatura mundial, como D. Quixote? A maioria das pessoas os descarta como sendo meras fantasias, baseadas em superstições, que servem apenas para ludibriar e que, para muitos, têm poderes ocultos e diabólicos, principalmente, quando envolvem feiticeiras e seres mitológicos pagãos.
C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien acreditavam que os mitos e contos de fada (bem como clássicos da literatura mundial) abrigam uma mensagem, um sentido transcendente que vai além da interpretação literal e que aponta para o divino real. Os mitos, que contam a respeito de um mal que acomete a humanidade, um herói-deus ou deus-herói que se sacrifica para a salvação dessa humanidade e do processo de purga que acontece depois que esse herói ressurge da morte, fazendo os salvos ascenderem para a eternidade, são uma sombra da realidade da cruz.
As histórias que são contadas sobre os seres narnianos, animais falantes, os seres humanos que vieram em tempos longínquos e Aslam, que salvou o mundo de Nárnia, são crivadas de distorções e repletas de superstições, mas elas abrigam várias verdades, quando bem interpretadas e, em última instância, apontam para Aslam.
Príncipe Caspian é a história sobre como as lendas de Nárnia revelam o seu fundo de verdade a todos os povos daquele mundo. Isso não tem muita semelhança com o querigma e todo o processo de expansão do cristianismo, graças à Grande Comissão, que nos foi atribuída por Deus?
Nesse sentido, acredito que o livro também abrigue uma interpretação escatológica, como aliás, todos os contos de Nárnia permitem, de uma forma mais ou menos intensa. Ele nos mostra como será o dia em que todos os povos e nações conhecerão o verdadeiro sentido por trás de todas as histórias, quer seja de forma explícita, como no caso das Crônicas de Nárnia, quer inconsciente, como no dos mitos e da literatura clássica, que é Cristo mesmo e a instauração do seu Reino na Terra.
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A “subcriação“ de Tolkien e a criação de Deus
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Foto: Príncipe Caspian / Recorte da capa do Filme
Como no caso do primeiro Magia, sobre O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, trata-se de um manual de estudos da obra em pequenos grupos, sejam familiares, de igreja ou de empresa. A seguir, vou lançar algumas ideias básicas do manual.
Primeiro, a obra trata de heroísmo, amizade e fidelidade a um grupo, patriotismo, política e ética, mas o tema guarda-chuva de todos os outros são as histórias ou narrativas (stories) e seu sentido mais profundo. Esse era um dos temas favoritos, tanto de Lewis, quanto de J.R.R. Tolkien e também era um dos que mais eles discutiam entre si, inspirados por G.K. Chesterton, principalmente no seu capítulo, “A ética da Elfolândia”, de Ortodoxia, a respeito dos contos de fada.
E esse tema aparece logo de início. Tudo começa, em Príncipe Caspian, com diálogos entre Caspian e seu guia, um mago, meio anão, meio homem, que lhe conta as histórias da Antiga Nárnia, como fazia a sua ama, despedida por esse crime. Seus personagens, seres sobreviventes à tirania do tio de Caspian, Rei Miraz, encontram-se banidos na floresta negra. O Rei não admite essas histórias de animais falantes e de Aslam, que são todas descartadas como “contos da carochinha”, sem fundamento na realidade. Ao mesmo tempo, há muitas superstições em torno da floresta negra, da qual ninguém se atreve a se aproximar, por causa da crença de que haveriam poderes malignos pairando por lá.
Mas qual a função e verdadeira relação dos mitos, contos de fada e clássicos da literatura brasileira, como a obra de Monteiro Lobado, e da literatura mundial, como D. Quixote? A maioria das pessoas os descarta como sendo meras fantasias, baseadas em superstições, que servem apenas para ludibriar e que, para muitos, têm poderes ocultos e diabólicos, principalmente, quando envolvem feiticeiras e seres mitológicos pagãos.
C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien acreditavam que os mitos e contos de fada (bem como clássicos da literatura mundial) abrigam uma mensagem, um sentido transcendente que vai além da interpretação literal e que aponta para o divino real. Os mitos, que contam a respeito de um mal que acomete a humanidade, um herói-deus ou deus-herói que se sacrifica para a salvação dessa humanidade e do processo de purga que acontece depois que esse herói ressurge da morte, fazendo os salvos ascenderem para a eternidade, são uma sombra da realidade da cruz.
As histórias que são contadas sobre os seres narnianos, animais falantes, os seres humanos que vieram em tempos longínquos e Aslam, que salvou o mundo de Nárnia, são crivadas de distorções e repletas de superstições, mas elas abrigam várias verdades, quando bem interpretadas e, em última instância, apontam para Aslam.
Príncipe Caspian é a história sobre como as lendas de Nárnia revelam o seu fundo de verdade a todos os povos daquele mundo. Isso não tem muita semelhança com o querigma e todo o processo de expansão do cristianismo, graças à Grande Comissão, que nos foi atribuída por Deus?
Nesse sentido, acredito que o livro também abrigue uma interpretação escatológica, como aliás, todos os contos de Nárnia permitem, de uma forma mais ou menos intensa. Ele nos mostra como será o dia em que todos os povos e nações conhecerão o verdadeiro sentido por trás de todas as histórias, quer seja de forma explícita, como no caso das Crônicas de Nárnia, quer inconsciente, como no dos mitos e da literatura clássica, que é Cristo mesmo e a instauração do seu Reino na Terra.
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Foto: Príncipe Caspian / Recorte da capa do Filme
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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